É com muita ingenuidade – dessas bonitas, quase infantis- que pensamos poder oferecer cura em nossas relações. 

Não é menos belo também quando, despidos de onipotência, escolhemos dividir a vida com alguém sem esperar que saremos essas feridas. 

Dividir as dores de um peito cansado, tal qual escutei enquanto o aplicativo de música pulava no aleatório, pode ser a maior promessa de amor que podemos oferecer.

Cura não.

Porque cura, por mais que a gente queira, não depende só da gente. 

Cura é, por vezes, mesquinho demais para o tanto de cuidado que cabe no companheirismo, na escuta e na companhia. 

O olhar disposto que se recebe quando olhamos pro lado é o maior sinal de que, em meio ao caminho sinuoso, há sombra e descanso.

É a não-espera de que se carpine o caminho, que se mude de rota e que se tirem as pedras por você. 

Ninguém o pode fazer. 

Assim como ninguém o pode curar. 

Mas a entrega de uma vida em alguém que não pode te dar mais nada senão sua disposição é talvez a maior prova de que o amor, no final, repousa na não-espera. 

Mesmo que continuemos, pra sempre, esperando. 

Divide comigo as dores de teu peito cansado?

Prometo não te sarar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *